Embora o mundo fale sobre a importância da equidade social, pesquisas apontam que esse cenário ainda está muito longe do ideal. Além disso, a presença de lideranças femininas em cargos de gestão nas empresas ainda enfrenta muitos desafios.
Questões relacionadas à cultura organizacional e à aceitação do time, quando liderado por mulheres, são percalços difíceis de lidar no dia a dia corporativo. Como superar esses obstáculos?
Os dados apresentados pela empresa de auditoria Grant Thornton, no relatório Women in Business 2023, defendem que ações intencionais das empresas de médio porte podem acelerar a igualdade de gênero de forma mais rápida. O estudo mostra que 28% das empresas de médio porte têm uma diretora executiva (CEO), contra 15% em 2019.
Esse cenário pode melhorar ainda mais se considerarmos as pressões externas focando a ESG (sigla em inglês, que significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização), que exigem a criação de estratégias para criação de equipes mais diversas na liderança, estimulando a paridade de gênero.
O relatório traz sugestões para que as empresas impulsionem essa igualdade e, dentre elas, estão a flexibilidade no modelo de trabalho, incluindo o formato híbrido, e a criação de programas de bem-estar e orientação dos colaboradores para que apoiem as mulheres na liderança. Mas será que as empresas estão explorando estratégias que tratem essas questões?
O avanço do percentual de mulheres em cargos de gestão é um passo importante, porém, outras questões precisam ser compreendidas, discutidas e desenvolvidas nas organizações para que a “igualdade” seja expandida e inclua aspectos, tais como: tratamento, percepção de autoridade, respeito, espaço de fala, entre outros. Ocupar o cargo é apenas um dos pontos do iceberg.
As organizações têm um papel fundamental para a aceleração da igualdade de gênero, e é importante reconhecer o valor único que as mulheres trazem para o mundo dos negócios.
Porém, as mulheres líderes podem fazer mais a respeito, entendendo quais são os principais desafios, de modo a traçar estratégicas para superá-los. Isso trará para o ambiente corporativo o protagonismo que precisamos para avançar.
- Quais são os desafios enfrentados pelas mulheres em cargos de gestão e como superá-los?
- Autoconfiança e síndrome do impostor
A síndrome do impostor é um fenômeno psicológico segundo o qual as pessoas duvidam de suas próprias conquistas, levando ao medo de serem expostas como fraudes. Isso abala a confiança em suas habilidades e capacidades de liderança. Reconhecer suas realizações, conquistas, competências e internalizar que há mérito de estar onde está, é o caminho certo para se autovalidar. Além disso, praticar o autocuidado, buscar apoio emocional e o desenvolvimento contínuo dão suporte à construção da autoconfiança.
- Viés de gênero ou estereótipos
Ser vista como menos capaz ou emocionalmente instável para assumir posições de liderança é muito comum nos ambientes corporativos. Para superar isso, é importante que as mulheres líderes mostrem competência para exercer essa posição, investindo no desenvolvimento de habilidades que facilitem o alcance de resultados tangíveis. Estereótipos são combatidos com preparação, empoderamento, apoio de uma rede de conexões e apresentação de resultados.
- Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
As mulheres enfrentam pressões adicionais devido às expectativas sociais tradicionais. Ser “competente” em tudo é algo que nos persegue. Para lidarmos com isso, é importante estabelecermos limites claros, saber dizer “não” para algumas demandas, priorizar a pausa pessoal, a família e dividir de forma mais equitativa as responsabilidades domésticas. E o mais importante: temos que entender que tudo isso é necessário! A cobrança interna precisa dar uma trégua.
- Discriminação salarial
Um item que dispensa comentários! Para defender a igualdade salarial, é importante não esperar. Ser proativa, fazer pesquisas salariais e, principalmente, ter coragem para negociar de forma assertiva são ações que podem acelerar a paridade de gênero. A assertividade envolve apresentação de resultados concretos, dados e fatos que corroborem a solicitação. Além disso, é fundamental que as organizações adotem políticas de remuneração justa e transparente.
- Estereótipos de liderança e estilos de liderança
A organização precisa se desapegar dos estereótipos de liderança associados a características masculinas, e a mulher pode, e deve, valorizar habilidades, tais como: empatia, colaboração, inteligência emocional e capacidade multitarefa.
- Oposição do time
Algumas mulheres lideram equipes que se opõem a sua liderança. Quando o relacionamento é atrelado ao fato de ser uma mulher na gestão, o cenário fica mais desafiador. Isso pode estar relacionado a preconceitos arraigados ou resistência a mudanças. Nesse caso, é crucial que a mulher construa uma relação de confiança com seus liderados, demonstrando competência, habilidades, imparcialidade e resultados consistentes. Além disso, é imprescindível contar com o apoio de aliados dentro da organização para dissipar possíveis resistências e preconceitos.
- Falta de reconhecimento e de espaço de fala
Culturas organizacionais que se apoiam em estilos de liderança com características masculinas tendem a minimizar o reconhecimento merecido a mulheres gestoras. Normalmente, o que observamos são confetes para um lado e um tímido “parabéns” do outro. Além disso, é comum, em culturas assim, observarmos, nas reuniões de resultado, pouco espaço de fala para as mulheres e/ou piadas sem graça quando uma mulher vai apresentar seus resultados.
É importante “lutar” pelo mesmo espaço, entendendo junto ao gestor direto e/ou aos recursos humanos os critérios de avaliação de desempenho; não se intimidar em colocar com assertividade os seus pontos de vista e, principalmente, negociar com base em competência e entrega de resultados.